Na XXVII Volta a Portugal em Bicicleta o portista Fernando Moreira de Sá foi o vencedor, tendo defendido garbosamente a camisola amarela até à última etapa, concluindo a prova com 12 minutos de avanço sobre o sangalhense Emilio Rodriguez. A mais de 15 minutos ficou o 3º classificado, Manolo Rodriguez também do Sangalhos. Enquanto no 4º lugar ficou Luciano Moreira de Sá, ciclista também do FC Porto e irmão do vencedor; tendo em 5º se quedado o antigo ídolo Fernando Moreira (que depois de ter andado a correr pelo estrangeiro regressou a Portugal e passara a correr pela equipa Mabor). O FC Porto ganhou ainda por equipas, triunfando na classificação coletiva com 5, 55 minutos de avanço sobre a equipa do Sangalhos.
Iniciada a 21 de agosto na pista do Lima, nesse ano de 1952 a Volta a Portugal acabava então no dia 7 de setembro na cidade do Porto, com etapa de consagração no trajeto Vila do Conde-Porto. Perante total domínio do FC Porto e individualmente o Moreira de Sá mais novo haver superado tudo e todos, mantendo por largos dias e até final a liderança, que conquistara a partir da 3ª de 17 etapas, ao longo de 18 dias.
Refira-se que o vencedor era então conhecido e referenciado por Fernando Moreira de Sá, nome comprido comparativamente com os habituais dois nomes atribuídos no tratamento público dos ciclistas, precisamente para diferenciação de seu mano mais velho, Luciano, mas também do antigo ídolo das multidões, Fernando Moreira, que então também passara a ser referido por Fernando Jorge Moreira.
Pois assim, o FC Porto que entrara no ciclismo alguns anos depois de outras equipas, e a partir que passou a competir na Volta a Portugal regularmente desde 1946 e venceu pela primeira vez em 1948, era já pela quarta vez em cinco anos dono da vitória na Grandíssima Volta a Portugal em bicicleta, quando então Fernando Moreira de Sá cruzou a meta no Estádio do Lima e garantia a camisola amarela para o único clube que representou. Ao longo de 17 etapas e de 2.647 quilómetros, o ciclista natural da Maia impôs-se perante a concorrência e terminou a Grandíssima com o tempo de 87 horas, 07 minutos e 31 segundos, uma vantagem de 12 minutos mais 33 segundos para o segundo classificado.
Nesse mesmo ano da vitória de Fernando Moreira de Sá na Volta a Portugal, o mesmo Moreira de Sá e Alves Barbosa, formando equipa, venceram em Caracas, a prova dos 40 quilómetros à americana, na Venezuela, relegando para o segundo e seguintes lugares outras duplas de italianos e luxemburgueses. Sendo à época aquele sangalhense, Alves Barbosa, um dos bons valores nacionais, não chegou depois a entrar na Volta Portuguesa, havendo notícias de não ter sido dispensado temporariamente do serviço militar, em que estava incorporado oficialmente (enquanto foi autorizado a ir à Venezuela), embora aparecessem outras notícias dizendo que não quis arriscar ir à Grandíssima por deficiente preparação, precisamente por estar na tropa. Ainda na mesma época e relacionado com todo esse enquadramento, refira-se que Luciano Moreira de Sá, o irmão do vencedor da Volta de 1952, venceu a grande clássica portuguesa Porto-Lisboa (tendo até o mesmo Luciano Sá repetido em 1953 a vitória na mesma grande ligação num só dia entre a capital do Norte e a capital do País).
Para melhor ilustrar tal grandiosa vitória de Fernando Moreira de Sá na Volta a Portugal em Bicicleta de 1952, porque as imagens dispensam mais palavras, atente-se nas descritivas pranchas desenhadas que incluem o álbum “OS HERÓIS DA ESTRADA” (em banda desenhada, edição de 1986 d’ O Jogo e Jornal de Notícias).
Fernando Moreira de Sá, falecido entretanto em 2014 com 85 anos, foi mesmo um dos mais relevantes ciclistas da sua geração, entre as décadas de 40 e 50 do século passado, tendo ingressado no FC Porto com apenas 17 anos. E de azul e branco fez toda a carreira, que teve como pontos altos a conquista da Volta a Portugal de 1952, bem como o Campeonato Nacional de 1950. Numa altura em que o ciclismo era uma modalidade muito popular, Moreira de Sá era um dos ciclistas mais acarinhados pelos adeptos, não só devido às suas qualidades como ciclista, mas também pelo comportamento exemplar que teve sempre para com companheiros e adversários.
Nascido a 12 de junho de 1928, na Maia, Fernando Moreira de Sá, além desse ponto mais alto da sua carreira desportiva com a vitória na Volta a Portugal de 1952 e a também destacável vitória no Campeonato Nacional em 1950 e para cinco títulos de campeão regional de fundo, também se destacou em ter ido ao pódio da Volta anos antes da sua vitória, junto com seu irmão, havendo eles sido 2º e 3º classificados na Volta a Portugal de 1950, ganha pelo colega de equipa Dias dos Santos.
= Ladeando o vencedor da Volta a Portugal em 1950, Dias dos Santos, na companhia também de seu irmão Luciano. =
Ora, Fernando Moreira de Sá foi um dos expoentes dessa modalidade desportiva de pergaminhos dourados dentro da história do F C Porto. Era assim chamado popularmente, na extensão do nome, ou ainda por Moreira de Sá, para se distinguir do famoso Fernando Moreira, mais velho mas seu contemporâneo, assim como de seu irmão Luciano Sá, vencedor de duas edições da clássica Porto-Lisboa. Havendo ele, Fernando, por sua vez, tido mais triunfos e estado à beira de outros também importantes, como aqui afloramos, através de alguns recortes coevos… com que se demonstra não ter sido apenas a vitória na Volta a Portugal que o tornou afamado.
Com efeito, entre as corridas em que participou, sempre em lugares de destaque, Moreira de Sá, por exemplo, teve papel importante na Volta conquistada em 1950 pelo colega de equipa Dias dos Santos – conforme se ilustra com imagens da época, também. Mas houve outras peripécias sintomáticas de sua aura ciclista, conforme aqui recordamos, de seguida…
= Reportando à Volta a Portugal de 1951, o valor de Moreira de Sá era reforçado com a história do roubo da vitória na clássica 9 de Julho, no Brasil… =
Muito admirado no seio da família Portista, Moreira de Sá era conhecido por "locomotiva", com que ficou ainda e sempre é referido, derivado de sua velocidade evidente e por puxar, por assim dizer, o ciclismo do F C Porto para a ribalta da liderança nacional. Especialmente pela categoria de nesse tempo ter sido o melhor contra-relogista ibérico durante vários anos, sensivelmente ao longo de quase uma década.
Como lídimo representante do ciclismo nortenho, quando o campeoníssimo Fernando Moreira andou pelo estrangeiro e depois regressou sem o anterior fulgor, Moreira de Sá não teve apoio da comunicação social sulista e era visto pelos adeptos dos clubes adversários como alguém que lhes tirava veleidades… a pontos de, mais tarde, ainda, um livro intitulado História da Volta, transcrito para a página informática da Federação, lhe tentar retirar méritos, por Alves Barbosa não ter participado na Volta de 1952. Como se os lugares triunfais estivessem reservados… Mas a história encarrega-se sempre, como o azeite, de vir acima e repor as verdades, sabendo-se que Fernando Moreira de Sá teve uma carreira brilhante, digna de muito apreço. Vencedor moral, embora 2º classificado, na Volta do 9 de Julho de São Paulo-Brasil, em 1951, por não lhe ter sido reconhecida a vitória nessa prova através de artimanhas de bastidores, foi aí vítima de inventona a que em Portugal alguma imprensa pró-clubes de Lisboa deu enfoque desvirtuador, como é costume. Veio mais tarde, em 1952, a obter um importante triunfo internacional, ao vencer em Caracas (Venezuela) os 40 quilómetros à americana, com Alves Barbosa a completar a dupla e relegando para lugares imediatos italianos e luxemburgueses. E, como bem relatou Victor Queirós, profundo conhecedor da História do F C Porto, Fernando Moreira de Sá «foi um ciclista de nível mundial, o mais completo de uma família de ciclistas, os 3 Irmãos Sá, que contribuíram imenso para o domínio esmagador do FC Porto entre os anos 1940 e 1970. Moreira de Sá era um contra-relogista ímpar e um trepador emérito, e a sua humildade notou-se pela forma como se manteve ao serviço do colectivo no período mais brilhante de Fernando Moreira, com quem dominou as estradas nacionais e internacionais. Foi dos poucos a bater homem a homem Gino Bartali, bi-vencedor do Tour de France.»
De seu currículo, consta na ficha oficial, mais precisamente, que Fernando Moreira de Sá, sempre como ciclista do F C Porto, foi cinco vezes Campeão Regional e duas Campeão Nacional (uma como independente, categoria superior desse tempo, e uma como amador). Ganhou etapas e circuitos em provas diversas, tendo ainda em 1950 sido 2º classificado na corrida Madrid-Porto (com a participação de 10 portugueses e 10 espanhóis). Depois foi 2º classificado na Volta a S. Paulo e 12º na Volta a Marrocos, em 1951. Na Volta a Portugal, ganhou 3 etapas. Foi o vencedor da Volta em 1952, obtendo ainda um 3º, um 4º, um 5º e um 8º lugares. Em 1952, também venceu na Venezuela a referida clássica prova de 40 Kms à americana. Tendo nesse mesmo ano de 1952 conquistado então a Volta a Portugal, feito deveras eloquente pela sua superioridade patenteada.
De seu currículo, consta na ficha oficial, mais precisamente, que Fernando Moreira de Sá, sempre como ciclista do F C Porto, foi cinco vezes Campeão Regional e duas Campeão Nacional (uma como independente, categoria superior desse tempo, e uma como amador). Ganhou etapas e circuitos em provas diversas, tendo ainda em 1950 sido 2º classificado na corrida Madrid-Porto (com a participação de 10 portugueses e 10 espanhóis). Depois foi 2º classificado na Volta a S. Paulo e 12º na Volta a Marrocos, em 1951. Na Volta a Portugal, ganhou 3 etapas. Foi o vencedor da Volta em 1952, obtendo ainda um 3º, um 4º, um 5º e um 8º lugares. Em 1952, também venceu na Venezuela a referida clássica prova de 40 Kms à americana. Tendo nesse mesmo ano de 1952 conquistado então a Volta a Portugal, feito deveras eloquente pela sua superioridade patenteada.
Detentor como foi de tão prestigiante palmarés, Fernando Moreira de Sá tem lugar entre os nomes mais ilustres do desporto dos pedais em Portugal e na memória do mundo azul e branco. Constando mesmo uma sua bicicleta e uma taça de seu espólio no Museu do FC Porto.
Armando Pinto - 07 de setembro de 2020
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