A modalidade desportiva das bicicletas no FC Porto teve e tem um antes e depois da era atual W52-FC Porto
Ora, o ciclismo do FC Porto, em seu longo e grandioso historial, teve diversas fases e séries de conquistas e subsistências. Desde a fase da consolidação existencial, na era de Aniceto Bruno, e começo de predomínio que se tornaria tradicional, com Fernando Moreira, Onofre Tavares, Dias dos Santos, irmãos Moreiras de Sá, Amândio Cardoso, passando pelo tempo glorioso de grande número de valores como Sousa Santos (pai), Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Artur Coelho, Azevedo Maia, Mário Silva, José Pacheco, Ernesto Coelho, Joaquim Freitas, Mário Sá, José Pinto, Joaquim Leão, etc., quando houve o primeiro tetra entre clubes portugueses na Volta a Portugal (perante as vitórias de 1959, 1960, 1961 e 1962), com um ano de permeio a interromper a série, para logo de seguida Joaquim Leão inscrever também seu nome… Bem como, após alguns anos de menor brilho, apareceu uma geração jovem a criar novo ânimo, conforme a lufada de ar saída das pedaladas duns Gabriel Azevedo, José Azevedo Silva, Joaquim Leite, José Luís Pacheco, Custódio Gomes, Manuel Gomes, etc. Mais as épocas de orientação técnica de Emídio Pinto, com António Alves, Belmiro Silva, Manuel Zeferino e Cª. Até à atual época da parceria vitoriosa da W52-FC Porto. E pelo meio, assim como o clube teve antigos ciclistas estrangeiros que reforçaram a equipa em certos momentos, tais como Barrendero, Grauss e Lambertini, apareceu depois na transição dos anos 60 para 70 o francês Hubert Niel, que depressa ficou no gosto dos adeptos portistas e marcou uma época. Podendo-se dizer que praticamente veio revolucionar o mundo do ciclismo do FC Porto, desde os treinos, à preparação geral, mesmo os aquecimentos antes dos contra-relógios por equipas na pista das Antas, aos estágios em altitude antes da Volta, entre diversos pormenores que eram por maiores, de modo a ser atempadamente planeada a agenda competitiva da equipa.
Pois Niel é o protagonista histórico da memória portista desta vez. Em mais uma etapa de regresso memorial. E porque se traz agora isto à colação do tempo? Havendo o ciclismo nacional tido este ano um encerramento de época atípico (nas vicissitudes portuguesas que oficialmente favorecem uns setores da vida pública em relação a outros), e porque o ciclismo ainda é um desporto em que impera o esforço e não ressaltam tanto as arbitrariedades doutras modalidades competitivas, há sedução nessa atlética bravura que sobressai das pedaladas do ciclismo. Em cuja extensão se irmana o sentimento de apego a tal secção portista que durante largos anos cativou simpatias para o clube das Antas. Agora de novo entranhado na sensibilidade pelo mundo azul e branco, graças à parceria com a W52, tendo Adriano Quintanilha como grande obreiro da sustentação do ciclismo ainda em Portugal, com o qual beneficia a mística grandiosa do FC Porto. Porque o ciclismo é coisa que chega a todo o lado e passa em muitas terras, quão no caso portista isto de se sentir portismo é algo que não se explica, sente-se.
Recuando então no tempo, a chegada de Hubert Niel surpreendeu na época a nação portista, por há muito tempo o clube não ter ciclistas de outras nacionalidades. Chegando porém com cartaz de bom condutor de ciclistas, proporcionando esperanças de retoma de bons velhos tempos. Sendo um histórico vencedor do Tour de l'Oise anos antes.
Hubert Niel, nascido a 27 de abril de 1941 em Saint-Nicolas-de-Redon (Pays de la Loire), na França, foi então ciclista amador em 1963 e 1964, e profissional de ciclismo entre 1965 a 1970. Tendo integrado de 1964 a 1967 a equipa francesa Peugeot – BP (inicialmente com patrocínio Englebert e depois Michelin), seguindo-se em 1968 a também francesa equipa Pelforth - Sauvage - Lejeune. Até que em 1969 veio para Portugal representar o Futebol Clube do Porto (ao tempo com patrocínio da Texlene), permanecendo duas épocas na coletividade maior do Norte de Portugal.
= Momento de confraternização no lar do ciclismo do FC Porto, em 1969. Vendo-se, a partir da esquerda: José Luís Pacheco, José Azevedo Silva, Cosme de Oliveira, António Carvalho, Joaquim Leão, Joaquim Leite, Duarte Ribeiro e Hubert Niel. Ou seja, parte da equipa que venceu a Volta a Portugal por Equipas com o Francês Hubert Niel como Técnico.
= Um testemunho da empatia que Niel ganhou no seio da equipa !
No seu currículo desportivo consta que em 1963 e 1964 foi 1º na Classificação Geral do Essor Breton, da França. Assim como, contando para aqui apenas primeiros lugares, foi em 1966 1º em Mauron (Bretanha), 1º na 3ª Etapa do Tour de l'Oise (Tour de Picardie), Creil (Picardie), e 1º na Classificação Geral do Tour de l'Oise, (Tour de Picardie), em França. Continuando em 1967 com o 1º lugar em Bugeat (Limousin), e 1º em Rieux (Bretanha), França. Já em Portugal alcançou ser 1º na 5ª Etapa Chaves - Bragança da Volta a Portugal (ex-aequo com João Pinhal, do Benfica) e 1º na Etapa da Pista de Tavira na Volta a Portugal, integrado na equipa vencedora na classificação coletiva (visto depois ter sido justamente atribuída a vitória por equipas ao FC Porto). Enquanto em 1970 (entre diversas provas, incluindo corridas de âmbito associativo regional, como no caso da Prova de Abertura da época, que se recorda por um recorte do jornal O Porto de Fevereiro de 1970), Niel foi o 1º no Circuito do Porto; como depois conseguiu ser 1º na 1ª Etapa do Grande Prémio Philips, em Vila Real (Vila Real), prova em que ficou em 8º na Classificação Geral final; tal como na Grandíssima Portuguesa foi 1º na Etapa da Volta a Portugal decorrida na Pista de Tavira, acabando posteriormente por se classificar em 9º na Classificação Geral final dessa Volta a Portugal. Marcando ainda sua passagem em Portugal sendo por fim 1º no Circuito 12 Voltas à Gafa (Bombarral).
= Notícia da atribuição do título da vitória por equipas na Volta a Portugal de 1969, após maratona judicial terminada em fevereiro de 1970. Sendo finalmente a respetiva taça entregue a 1 de Março seguinte, conforme ficou registado no Jornal O Porto de 7 de março de 1970. Resultando, por todo esse atraso, que quando a equipa vencedora pode desfilar com a taça já não integrava a equipa das Antas o ciclista Mário Silva, que havia rumado a Moçambique para representar a Fagor. E em consequência de tudo isso, também, em diversos registos e estatísticas por vezes não aparece mais essa vitória do FC Porto, em publicações em que por esquecimento ou propositadamente não fazem constar essa verdade… em jornais, livros e até páginas informáticas oficiais.
Recentemente, em janeiro de 2020, Hubert Niel, acompanhado por Joaquim Leite, seu pupilo e colega de equipa em 1969 e 1970, visitou o atual Museu do FC Porto e ambos ali recordaram alguns dos grandes momentos que viveram na defesa das cores do clube.
Armando Pinto - Novembro de 2020
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