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domingo, 16 de enero de 2022

Falecimento de Onofre Tavares (1927-2022) - Um dos maiores sprinters e pistards portugueses dos anos 40/50 !

Chega pelo Facebook uma triste notícia: faleceu este domingo, dia 16 de janeiro, o antigo ciclista e apreciado técnico de ciclismo Onofre Tavares, “um dos maiores sprinters e pistards portugueses dos anos 40/50”.

Aqui o autor do espaço de Memória Portista assinala o facto, como justo preito de reconhecimento por quanto representa no imaginário do ciclismo portista e nacional, apresentando as mais sentidas condolências à família.

Descanse em Paz Campeão!

Como homenagem também nesta ocasião, acrescento o artigo que há já alguns anos aqui lhe foi dedicado no blogue pessoal Memória Portista:

« Onofre Tavares: Referência Memorável do Ciclismo do F. C. Porto e Português.


O ciclismo é uma modalidade atrativa, diante da imagem ligada do homem à máquina, perante o esforço humano em cima da bicicleta. Enquanto, no caso que nos toca, apesar de ser uma secção que esteve extinta entre 1984 a 2016 dentro do ecletismo portista, foi uma das principais modalidades no que concerne a prestígio, na vida do F. C. Porto, sendo por via do desporto dos pedais que muitos adeptos se foram afeiçoando à coletividade da Constituição e das Antas, da cidade do Porto. 

Efetivamente, em tempos de menor rendimento do futebol azul e branco, quando a equipa de futebol não conseguia títulos de relevo, era o ciclismo que dava honra e glória ao grande clube portuense. Faz parte das memórias portistas do autor destas notas o entusiasmo que o ciclismo gerava, sabendo que chegado o Verão o F. C. Porto era rei e senhor pelas estradas além, com a passagem dos corredores às terras de quase todos os portugueses e até à porta de cada um, nas andanças das corridas clássicas, mais dos grandes prémios, e por fim da Volta a Portugal, quando todas as atenções se colocavam nos nomes dos grandes ases dos pedais. Sendo que o F. C. Porto detinha grande poderio na caravana ciclista, suplantando por norma os grandes rivais, vingando então erros grosseiros de arbitragens nos campos da bola e manobras diretivas do futebol. 

Eis, pois, um dos motivos porque continuamos a pugnar pela preservação histórica do historial ciclista das camisolas listadas de azul e branco, do que foi o ciclismo no F. C. Porto. Que, pese embora ter deixado de existir durante largos anos no F. C. Porto  não se pode nem deve esquecer o passado. Não sendo muito de entender como nos livros sobre o F. C. Porto só aparece o futebol, de fio a pavio, e o próprio museu do clube, nas versões antes existentes, apresentava uma grande maioria de percentagem em objetos e espaços dedicados ao futebol, com lacunas evidentes quanto à devida dimensão das modalidades. Desejando-se, por isso, que o futuro espaço museológico do Dragão venha a contemplar tudo e todos os que, por seus feitos valorosos, mais da lei da morte se libertaram. Mesmo sabendo-se, e todos nós sentindo, que o futebol é a mola real da vida clubista, não se deve olvidar tudo o mais, antes será de glorificar e perpetuar o que contribuiu para o engrandecimento do clube, valorizando tudo o que tem e teve valor.


Nesse âmbito, tal como já recordamos alguns dos nomes salientes da modalidade dentro do F. C. Porto, evocamos agora mais um dos ídolos do passado, trazendo à lembrança um ciclista de tempos recuados, daqueles que ajudaram a cimentar o carisma que a modalidade ganhou no seio da coletividade alvi-anil – o Onofre Tavares. Um “sprinter” de renome e especialista de provas de pista, mas também estratega de equipa; daqueles ciclistas que permaneceram nas memórias dos adeptos, apesar de não ter vencido nenhuma Volta a Portugal, a prova que mais imortalizava os grandes estradistas. Em sinal, isso mesmo, do carisma do próprio ciclista, como nome dos mais aplaudidos pelo país fora. 

Soubemos, há tempos, que em 2013, o Museu do Ciclismo, sediado nas Caldas da Rainha, homenageou alguns antigos ciclistas portugueses, entre cujas grandes glórias do passado, que aí passaram a ter essa honra, estão Onofre Tavares e Joaquim Leite, dois antigos desportistas das corridas de bicicletas que andaram nas estradas e pistas com a camisola do F. C. Porto. Por acaso dois corredores que tiveram seus maiores êxitos ao serviço do F. C. Porto, mas também passaram pelo Benfica. O mais novo, Joaquim Leite, depois de ter andado nos seus melhores tempos pela equipa das Antas, inclusive com vitórias em provas importantes do calendário nacional da modalidade e ter chegado a ser portador da camisola amarela na Volta a Portugal, enquanto correu pelo F. C. Porto, acabou depois por se transferir para a equipa ciclista lisboeta por sua livre vontade. Ao passo que o mais velho, Onofre Tavares, esse teve um período em que, após a sua formação e de seguida dois anos já como senior a representar o F. C. Porto, teve de interromper essa ligação noutras duas épocas seguintes em que vestiu a camisola do Benfica, mas apenas enquanto cumpriu o serviço militar, por ter estado na tropa em Lisboa; para depois logo ter regressado ao seu clube, onde acabou a carreira passado alguns anos. Havendo grande diferença de tempo entre eles, pois Onofre Tavares se distinguiu sobre o selim pelos anos de quarenta e cinquenta, ao passo que o outro mais jovem evoluiu já nos inícios da década de setenta, do século XX naturalmente.

= Foto de um painel constante num dos museus dedicados à modalidade, no caso o Museu do Ciclismo, nas Caldas da Rainha.= 

Então, damos de novo espaço ao ciclismo.

= excerto duma crónica na revista Stadium, edição de 10 de Julho de 1946.= 


Recuemos então a tempos de antanho. E passamos a lembrar um dos grandes ídolos dessas eras remotas, Onofre Tavares, como era e é conhecido, esse sorridente ciclista que a meio do século XX era famoso e deveras vitorioso . 

De nome completo Onofre Alexandre Tavares Marta, nasceu em 29 de Agosto de 1927, segundo os dados conhecidos, na freguesia de Gulpilhares, concelho de Vila Nova de Gaia. Representou o F. C. Porto e o S. L. Benfica (durante o serviço militar) e manteve-se em atividade de 1943 a 1957. “Sprinter” notável, ganhou muitas corridas e circuitos. Foi Campeão Regional de Fundo por 3 vezes e de Velocidade por 6, e ainda Campeão Nacional de Fundo em 1953 e Campeão Nacional de Velocidade por 4 vezes. Mas ganhou sobretudo nome de cartaz em ter sobressaído nas vezes que correu a Volta a Portugal, prova-rainha do calendário português em que Onofre Tavares participou em oito edições, tendo sido portador da Camisola Amarela e vencedor de 10 etapas. Internacionalmente correu a Prova “9 de Julho” no Brasil e o Madrid-Porto em 1950, clássica esta onde venceu uma etapa. 

O então jovem Onofre começou a revelar-se muito novo a guiar bicicletas de corrida. Como aliás refere uma coluna que lhe foi dedicada no livro da Fotobiografia do F. C. Porto (por Rui Guedes), com foto e legenda que mais tarde teve também lugar num volume da coleção “Dragão Ano 111 (escrita por Alfredo Barbosa e editada pelo Comércio do Porto) – conforme se vê na foto seguinte. 

Aliás ele foi quase um dos pioneiros, pois foi pouco antes que começou o ciclismo no clube, já que logo nos inícios dos anos 30 apareceram as primeiras formações azuis e brancas, nas quais havia duas categorias, Fracos e Fortes, á imagem da época. Sendo que dos chamados Fortes do Porto faziam parte uns Nunes de Abreu, Adalberto Soares, Elias Cruz e José Rainho, e sabendo-se que na Volta de 1934 o F C P participou com duas equipas, nas tais diferenciadas classes. Enquanto já em 1936 havia camadas jovens de ciclismo na agremiação da Constituição, segundo se constata por registo de vitórias do então juvenil Onofre Tavares, ao que vem na Tábua Biográfica da “Fotobiografia do F C Porto” (ed. 1987, de Rui Guedes).


Desse tempo fica-se ainda a saber mais através de uma reportagem da revista "Ciclismo a Fundo", na qual foi publicado um pequeno artigo sobre Onofre Tavares no seu número 20 de "Abril/Maio de 2012". Aí, na rubrica “O que é feito de si”, o antigo campeão Onofre Tavares teve direito a estar sob os “holofotes da fama” ao recordar as mais gloriosas e pitorescas histórias de uma vida quase inteiramente dedicada ao seu desporto de eleição, o ciclismo. Com o próprio a descrever as origens da sua carreira de ciclista, por suas próprias palavras: "Ninguém na minha família tinha ligações ao ciclismo, mas quando eu tinha uns seis ou sete anos os meus pais ofereceram-me uma bicicleta e a paixão foi imediata. Como o meu pai tinha uma sapataria comecei a utilizá-la como meio de transporte para levar o calçado aos fregueses dele." E foi aos 14 anos que participou na sua primeira prova de ciclismo: "Um dia fui levar o calçado a um barbeiro que era um cliente antigo do meu pai e ele, sem eu saber de nada, inscreveu-me numa corrida de ciclismo, a Coimbrões-Grijó-Coimbrões. Sem preparação, e sem sequer saber ao que ia, consegui finalizar com o grupo da frente." 


Já mais crescidote, fazendo parte da equipa portista, contribuiu para as vitórias do F. C. Porto no Campeonato Regional de Amadores Seniores, individualmente e por equipas, e no Campeonato Regional de Independentes, em 1940/41.Época em que também, entre outros factos, contribuiu no jogo de equipa para a vitória de Aniceto Bruno nas provas oficiais Porto-Guimarães-Porto, Porto-Fafe-Porto e Circuito do Estoril. Seguindo-se no ano imediato novas vitórias nos mesmos campeonatos regionais. Por essa época, estava o ciclismo ainda a passar por uma fase indefinida, como se nota em ter havido, em Maio de 1942, um festival desportivo a reverter para a secção de ciclismo do FCP, no campo da Constituição, com a participação de outras secções do clube, através de jogos de andebol e futebol; sendo que em andebol de onze foi entre antiga equipa de 1935 e a então atual, de 1942 (verificando-se uma vitória dos mais antigos por 3-2), bem como em futebol ocorreu um encontro entre velhas guardas da equipa de 1932 e a do ano vigente, de 42 (com os mais novos a terem suplantado os mais idosos por um engraçado resultado de 7-5). Curiosamente, havia então provas de pista, em que o F. C. Porto contava com o especialista Onofre Tavares, como foi o caso duma prova chamada “Uma Hora Americana”, na qual a equipa do F. C. P. triunfou. Entre esses exemplos e mais vitórias coletivas, note-se ainda que em 1943 Onofre se sagrou Campeão de Velocidade do Norte, título que repetiu em 1944 e por aí adiante. 

Havia sucessivamente passado, entretanto, pelas diversas categorias existentes, então, alcançando em 1945 os títulos de Campeão de Velocidade e de Fundo do Norte – num tempo de que é coeva a imagem (imediata), retirada da revista Stadium de 1 de Agosto de 1945, respeitante a uma vitória verificada no mês de Julho desse mesmo ano, conforme a sua legenda: «Onofre Tavares, do F C Porto, vencedor do “critério” para Amadores».


Chegado depois à categoria superior, esse já então conhecido sprinter vence idênticos campeonatos a nível nacional, sagrando-se em 1946 Campeão Nacional, até que começa a participar na Volta portuguesa. Então logo venceu a sua primeira etapa da Volta a Portugal em 1946, por curiosidade também a primeira etapa da Volta desse ano, entre a Cova da Piedade e Setúbal, na distância de 52 km, e assim foi o primeiro dono da Camisola Amarela dessa Volta de 46. Na qual, dias depois, voltou a repetir a façanha ao vencer a 9ª etapa, chegando em primeiro à meta instalada em Castelo Branco. Enquanto, no decurso da prova, se revelou um dos principais animadores da corrida, alcançando por fim o 3º lugar final no pódio.


Dessa sua brilhante estreia na maior prova velocipédica portuguesa constam umas sugestivas e sintomáticas gravuras de banda desenhada incluídas no álbum “ OS HERÓIS DA ESTRADA” (edição Jornal de Notícias e O Jogo), cujas pranchas demonstram, a preceito, o bom desempenho obtido. 


Continuaria no ano seguinte a envergar a camisola azul e branca do seu F. C. Porto, mantendo o ritmo vitorioso, até que em 1947, devido ao serviço militar, fixado que estava em Lisboa, lá abalou para as bandas do Benfica. Como ainda se pode constatar por uma coluna que foi publicada na Stadium de 29 de Janeiro de 1947.


Intrometida que foi essa passagem pelo clube lisboeta, com cuja camisola encarnada andou em 1948 e 49 (sem grande saliência, acrescente-se, diante da falta de posição em lugares de relevo), regressou novamente à Invicta e ao F. C. Porto em 1950, para logo ter sido Campeão Nacional de Velocidade. Tendo permanecido de azul e branco os restantes anos de seu percurso, numa carreira que se prolongou a correr de bicicleta até 1957. 

Durante esse período acrescentou ao seu historial muitas vitórias, sobremaneira totalizando na Volta a Portugal significativa conta de triunfos em 10 etapas, e haver envergado a Amarela 2 vezes.

= Equipa do F C Porto que conquistou a Volta em 1950.= 

Pormenorizando um pouco, como merece o seu desempenho: em 1951 Onofre Tavares foi primeiro na 2ª etapa da Volta a Portugal, em percurso terminado em Vila do Conde, bem como venceu a 5ª etapa, finda em Évora, a 11ª etapa, em Aveiro e a 14ª etapa, em apoteótica chegada ao Porto. Depois, em 1952 venceu o Circuito da Malveira, mantendo de seguida a pedalada até à 15ª e penúltima etapa da Volta, de Braga a Vila do Conde, em cujo itinerário Onofre Tavares ajudou à vitória coletiva – pois, antes da etapa de consagração que ditou o companheiro de equipa Fernando Moreira de Sá como vencedor da Volta, houve lugar a essa etapa no sistema de contra-relógio por equipas. Tendo, nesse dia, a equipa do F. C. Porto arrancado uma boa corrida, com o conjunto formado por Fernando Moreira de Sá, Onofre Tavares, Amândio Cardoso, Luciano Sá, Joaquim Sousa Santos e Emídio Pinto a conseguirem então aumentar (para seis minutos) o avanço sobre a equipa adversária mais próxima, assegurando mais uma vitória coletiva na classificação geral respetiva, e deixando a equipa do Sangalhos no segundo posto à distância de meia dúzia de minutos.

= A equipa do F.C. do Porto, que venceu a Volta de 1952 =

Continuando a enumerar suas vitórias mais significativas, em 1953 Onofre foi 1º no Campeonato Nacional de Estrada, sagrando-se assim Campeão Nacional de estrada na categoria de Elite. Após isso, em 1956, logo na 1ª etapa da Volta desse ano, ajudou à vitória da equipa do F. C. Porto na corrida de pista por equipas, no Estádio do Lima (alcançando um dos três primeiros lugares, que contavam para a classificação coletiva, junto com os colegas Artur Coelho Guimarães e José Carlos Carvalho Pereira - sendo aí Artur Coelho o primeiro e como tal quem envergou a camisola amarela), continuando depois Onofre Tavares como vencedor da 10ª etapa da Volta a Portugal, em Vila do Conde, e obtendo iguais vitórias na 9ª etapa, sobre a meta instalada em Vila Real, mais a última etapa, chegada ao Porto. Ao passo que em 1957 conseguiu vencer a 7ª etapa da Volta a Portugal, em Beja, e a 14ª, por fim, no Porto.

= Foto da festa de despedida de Aniceto Bruno, em 1951, no decurso de um festival de homenagem, na pista do estádio do Lima.= 

Em pleno Verão de 1957, decidido que seria o seu último ano de corridas, Onofre Tavares teve uma Festa de Homenagem, no Lima, a 27 de Julho desse mesmo ano. Antes do início da que seria a sua  8ª e última presença na Grandíssima Portuguesa.


27 de Julho de 1957, sábado festivo de emoções, em plena cidade do Porto:
Festa de Homenagem a Onofre Tavares, o grande sprinter do F C Porto e de Portugal, no estádio do Lima, primeiro estádio com pista de ciclismo, em redor do também primeiro campo relvado para futebol, na cidade do Porto.  

(Sendo essa homenagem realizada nesse então recinto do Académico, porque o estádio das Antas, inaugurado em 1952, ainda não tinha a pista de ciclismo ativa, mais tarde inaugurada na etapa inicial da Volta a Portugal de 1962.) 

=Imagens do álbum de boas memórias duma grande carreira!



Na ocasião foi publicado um livro biográfico sobre o mesmo, ”Onofre Tavares – Rei do Sprint”, da autoria de Tomás Cardoso e publicado pela Gráfica Ibérica, do Porto, em sinal de sua importância (livro entretanto esgotado e que teve reedição em 2016, em 2ª edição da editora “bubok” – Bubok Publishing S.L., graças ao empenho dum grande entusiasta e conhecedor do ciclismo nacional, Eduardo Lopes, de Lisboa).

= Onofre chegou a ser um dos favoritos à Volta a Portugal quando jovem. Como se recorda por uma gravura inserta no jornal O Norte Desportivo de 1952: - Onofre Tavares e Américo Raposo, duo de favoritos a vitórias por esses tempos como cabeças de cartaz da correria do pelotão, em imagem de 1952 - nas expetativas referentes à Volta a Portugal desse ano (ganha depois por Fernando Moreira de Sá, do FC Porto). Note-se que na legenda original (do jornal de 1952) estão mal colocadas as indicações de direita e esquerda…

Estava então prestes a encerrar assim a carreira desse ciclista, ao cabo de 20 anos de competição velocipédica. Em sua honra, marcaram presença os espanhóis Saura e Esmaltzes, mais o campeão português Ribeiro da Silva, recém-chegado da sua brilhante participação na Volta à França.

= Onofre Tavares felicitado por Ribeiro da Silva, na sua Festa de Homenagem, na presença de alguns ciclistas dos que se associaram a esse reconhecimento público, entre os quais os colegas de equipa portista Emídio Pinto e Sousa Santos.

Dias depois de terminada a Volta a França, e quase a começar a Volta a Portugal desse ano, era então prestada justa homenagem ao histórico ciclista Onofre Tavares, em festa também de despedida antecipada (pois que ainda correu a Volta a Portugal, de seguida). Um dos maiores vultos do pelotão nacional, nesse tempo.

Sendo a festa organizada pelo FC Porto, naturalmente teve diverssos números relacionados com o clube, havendo na ocasião sido mostrados ao público pelos elementos do ciclismo portista os troféus  oficiais que Artur Coelho conquistara dias antes no Brasil, na clássica prova "9 de Julho", em São Paulo: a escultórica Taça Vitória / Taça da Gazeta Esportiva para o vencedor e a "Taça Tico-Tico" para o primeiro estrangeiro da mesma Volta a São Paulo.


Do principal prato do programa teve lugar o cerimonial de homenagem, em cujo decurso houve intervenções de homenagem a Onofre Tavares, pelo jornalista Justino Lopes, pelo Presidente do FC Porto, Dr. Paulo Pombo e pelo representante da Federação Portuguesa de Ciclismo, Abílio Pacheco.


Quanto à homenagem propriamente, é contado um relato algo pormenorizado  no jornal O Porto, em seu número de 31 de Julho seguinte, com algumas fotos de ilustração, também.


Conforme se lê no texto da reportagem, na mesma edição do ao tempo jornal oficial do FC Porto foi transcrito o discurso de elogio ao homenageado:


Do programa festivo fizeram parte diversos números, englobando corridas de pista:


Corrida de eliminação – vencedor Carlos Carvalho (FC Porto).
Critério de velocidade (20 voltas) - vencedor Sousa Cardoso (FC Porto).
Corrida de Perseguição (à italiana) - vencedor Esmaltzes (Espanha).

Por fim, decorreu a última prova com Onofre Tavares. Corrida «Uma hora à americana». Saindo vencedora a equipa formada pela dupla Onofre Tavares-Luciano de Sá, ambos do FC Porto.

(Onofre Tavares depois correu ainda a Volta a Portugal, na sua 8ª presença na Grandíssima Portuguesa, que já não chegou a concluir, mas antes e enquanto esteve em prova venceu duas etapas.)



Sobre o campeoníssimo “spinter” Onofre Tavares, mais tarde treinador e sempre figura do ciclismo português, fica esta homenagem à aura que permanece no mundo do desporto das bicicletas de corrida.


Manteve depois Onofre Tavares, entretanto, sua ligação ao F. C. Porto ao longo dos anos, colaborante que foi sendo sempre que solicitado. Contudo, não só ao clube azul e branco mas também ao ciclismo nacional. Depois de se retirar da prática ciclista, por diversas vezes foi treinador, tendo estado à frente da equipa do Académico do Porto no início da década de sessenta (foi treinador em 1961, por exemplo, de Alberto Carvalho, Manuel Castro, Joaquim Costa e demais, pouco antes da extinção da modalidade no popular Académico); e sobretudo teve relevo na orientação de equipas do ciclismo portista, quer como diretor desportivo adjunto, ao lado de Franklim Cardoso e Emídio Pinto, quer como técnico principal; tendo sido sob seu comando que o F. C. Porto venceu a Volta a Portugal de 1964, a nível individual (através da vitória de Joaquim Leão), como coletivamente (na classificação por equipas). 

  



A este grande nome do ciclismo portista e nacional, a esse bom adepto Portista que é ainda admirado entre Portistas mais ciosos do Portismo que nos corre nas veias, fazemos esta homenagem, trazendo sua grandeza desportiva à tona das memórias alvi-aniladas. Não chegamos a acompanhar sua carreira ciclista, mas somos ainda do tempo em que ele orientou a equipa principal de ciclismo do F. C. Porto. E como vibramos - tínhamos à volta de dez primaveras de vida - quando vivemos à distância a vitória na Volta ganha com Joaquim Leão vestido de amarelo e em equipas pela formação do F. C. Porto. Não mais esquecendo aquela volta de honra final, em plena pista de Alvalade, num orgulho de então sentirmos Lisboa a ter de presenciar tal honra de exibição gloriosa de toda a equipa do F. C. Porto, ali patente e completa (por terem acabado todos os que haviam começado essa Volta a Portugal com a camisola azul e branca); indo, em roda lenta todos os componentes da equipa perfilados, em formatura sobre as bicicletas e apoiando-se com as mãos nos ombros uns dos outros, logo a seguir ao vitorioso Joaquim Leão, esse com a coroa de louros, a tiracolo; e, à frente, também de bicicleta, seguindo adiante e levantando ao alto um vistoso ramo de flores, lá ia Onofre Tavares, “à paisana”, numa verdadeira apoteose, qual justa consagração voltista de toda a equipa e do treinador.

= Volta a Portugal de 1964 - Equipa do F. C. Porto que ganhou coletivamente e colocou três homens nos seis primeiros lugares da tabela classificativa: (a partir da esquerda) Joaquim Freitas, Sousa Cardoso, Carlos Carvalho, Mário Silva, José Pinto, Onofre Tavares (orientador técnico), Joaquim Leão, Ernesto Coelho e Mário Sá. Ali estava o triunfador individual desse ano, mais outros três anteriores vencedores da Volta. =

Deixou assim esse senhor seu nome associado ao ciclismo do F. C. Porto, surgido neste clube inicialmente ainda na década de trinta e regressado nos primeiros anos quarentas, até ter sido finalmente suspenso em 1984 (até ter regressado em 2016). Estando Onofre entre seus maiores valores, integrando uma galeria de ilustres campeões, dos que ao longo dos muitos anos de atividade o F.C. Porto formou e possuiu, como foi Fernando Moreira, o primeiro ciclista dos azuis e brancos a vencer a Volta a Portugal em Bicicleta, no ano de 1948, mais Dias dos Santos, que bisou, tal como Aniceto Bruno, Moreira de Sá, Amândio Cardoso, Carlos Carvalho, Artur Coelho, Sousa Cardoso, Mário Silva, Joaquim Leão, Sousa Santos, etc. etc. Até que, ainda hoje, embora o Sporting e o Benfica tenham abandonado mais tarde (inclusive com o Benfica e o Sporting a terem tido uma ainda recente reaparição episódica), o F.C. Porto detém o maior número de Voltas ganhas, quer a nível individual como coletivamente.


E Onofre é (era) sócio do F.C. Porto, clube do seu coração, sendo associado detentor dum número baixo pela sua antiguidade de inscrição, como tal. Nessa categoria, há já alguns anos, recebeu a roseta que distingue os associados pela sua longevidade associativa, em cerimónia ocorrida em 1996, aquando do 103º aniversário do F. C .Porto. Desse ato é a fotografia anexa, em que se vê o Presidente da Assembleia Geral do FCP, Dr. Sardoeira Pinto (e na presença do Presidente do Conselho Cultural, sr. Álvaro Pinto), a honrar Onofre Tavares com tal honorífico emblema que lhe ficou a assentar na lapela.

 

***

Mais recentemente, Onofre Tavares recebeu a Roseta de Diamante (de sócio com 75 anos de filiação clubista) em dezembro de 2018. Ato decorrido no estádio do Dragão, com a distinção entregue pelo presidente Pinto da Costa, tendo então o sr. Onofre recordado a amizade que tinha com José Maria Pedroto e com Hernâni, nomes icónicos do futebol do FC Porto, desde os saudosos tempos das Antas.

 
*** 
Diante de tal memorização, trazendo à superfície da memória portista essas épocas de grandiosidade do F. C. Porto por via do ciclismo, deixamos escapar em suspiro: - Como não pôr no ciclismo Portista tanto apego e significado?! 

16 de JANEIRO DE 2022 - Armando Pinto 

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miércoles, 19 de mayo de 2021

Efeméride. Muerte de Luis Ocaña




Un 19 de mayo de 1994, Luis Ocaña tenía que coger un coche para desplazarse a Bolonia, donde tres días después arrancaba el Giro de Italia de 1994, aquel que ganó Berzin y perdió Indurain. Ocaña iba a comentar la carrera con la COPE, como había hecho hasta cuatro días antes en la reciente Vuelta a España, la tercera de Rominger y la última en primavera. Pero en lugar del coche, cogió una pistola y se pegó un tiro en la sien, en su casa de campo de Caupenne d'Armagnac.

Josiane, su mujer, le encontró muerto. Tenía el teléfono descolgado. La mala salud de su negocio vinícola y la mala salud de su maltrecho hígado le arrastraron a una depresión. Oficialmente, el juez decretó suicidio, aunque la familia de Luis y su hijo Jean-Louis sospechaban de su esposa.

Al funeral acudió Merckx, a quien discutió su dictadura en la época. Fue en aquel famoso Tour de Francia 1971, donde solo una caída en el descenso del Menté impidió su victoria cuando dominaba de amarillo. Ocaña odió a Merckx por aquello. Y por la visita que le hizo unos días después al paso de la ronda por su ciudad. Con los años arreglaron sus diferencias con una gran borrachera en Suiza. Fue mi adversario más leal, recuerda el Caníbal.

También fueron al funeral Thévenet y Tarangu Fuente, los ciclistas que le acompañaron en el podio del Tour 1973. La gran victoria que le debía el destino, a la que faltó Merckx porque prefirió el doblete Vuelta-Giro.

Además, Ocaña ganó la Vuelta 1970, que salió de la provincia de Cádiz. En España le llamaban el francés y en Francia, el español. Aquí no se sintió muy querido, en una etapa en la que el ciclismo bailaba al son del Kas.

Descanse en paz.

Foto: Copyright © Getty Images


Manuel Perez Aguirre (c) Mayo 2021



domingo, 3 de enero de 2021

De Gribaldy, Muerte en Carretera


Jean De Gribaldy y Joaquim Agostinho


Jean de Gribaldy, entrenador del equipo ciclista profesional Kas (donde milita el portugués Acácio da Silva) falleció ayer, tras un accidente de tráfico. De Gribaldy (64 años, ex ciclista y ex entrenador del desafortunado Joaquim Agostinho, murió instantáneamente cuando el coche que conducía en la localidad de Voray-Sur-Ognon, a 300 kilómetros de París, se salió de la carretera y se estrelló contra un edificio. De Gribaldy, conocido por el «Visconde» por descender de la nobleza, también fue responsable del descubrimiento para el ciclismo profesional del campeón irlandés Sean Kelly, uno de los mejores ciclistas del mundo y líder de la línea de Acácio da Silva, en el equipo Kas. Desde Gribaldy, se dirigía al sur de Francia, por una carretera nacional, cuando su «Citroen CX» perdió el rumbo y fue aplastado contra la esquina de un edificio en Voray-Sur-Ognon. El técnico ciclista, que viajaba solo, había La policía informó que el médico que examinó a De Gribaldy poco después del accidente, en la pequeña ciudad a 300 kilómetros al sureste de París, dijo que se sentía mal poco antes del accidente, pero no dio detalles sobre la enfermedad. Georgia También dijo que se investigará el accidente para conocer las verdaderas causas. El cuerpo de De Gribaldy fue transportado a una funeraria en Besançon, donde residía, a unos 45 kilómetros al sur. La Policía cree que el técnico francés se preparaba para incorporarse al equipo de Kas, que se entrena en la localidad de Sallanches, una región al sur de Ginebra. De Gribaldy era un técnico muy conocido y respetado en el ciclismo profesional y tenía una inclinación particular por descubrir nuevos talentos. Nacido el 18 de julio de 1922. De Gribaldy se convirtió en ciclista profesional después de la Segunda Guerra Mundial, participando tres veces en el Tour de Francia, la carrera velocipédica más importante del mundo. Su mejor resultado fue un 2do lugar en el campeonato francés, en 1947. Famoso como "el vizconde" (tal ascendencia aristocrática), De Gribaldy abandonó su carrera como piloto en 1954, tras una caída en la carrera París-Valenciennes, pero volvió Ciclismo profesional para formar y entrenar equipos. Su mejor clase fue la actual «Kas», que ayudó a Kelly a convertirse en una de las mejores ciclistas del mundo y también fue propietaria de nuestro Acácio, también considerado uno de los ciclistas más prometedores del mundo. Fue Gribaldy quien, a mediados de la década de 1970, viajó a Irlanda y convenció al padre de Sean Kelly (un granjero) para que le dejara firmar su primer contrato profesional. Christian Rumeau. El entrenador asistente de -Kas-, anunció la cancelación del entrenamiento del equipo, para que los ciclistas puedan asistir al funeral y también porque Sean Kelly estaba muy conmocionado por la noticia del fallecimiento de su entrenador. El funeral aún no se ha arreglado. Kelly, que es un hombre muy sensible, quedó sumamente impactado por la noticia de la muerte de Gribaldy ”, dijo Rumeau, quien agregó que habló con el ciclista por teléfono:“ Fue como si alguien lo golpeara con un martillo en la cabeza ”, dijo. Rumeau dijo que los 26 ciclistas de «Kas» firmaron contratos solo para esta temporada y que su calendario que tiene la primera competencia en Volta à Espanha (en abril) sigue siendo el mismo. Fue una gran pérdida para el ciclismo, pero ahora no podemos correr ningún riesgo para el futuro del equipo, dijo el entrenador asistente de «Kas». Dice así: quien va, va ...


Jean de Gribaldy, técnico da equipa profissional de ciclismo Kas (onde milita o português Acácio da Silva) faleceu ontem, na sequência de um acidente de viação. De Gribaldy (64 anos, antigo ciclista e antigo treinador do malogrado Joaquim Agostinho, teve morte instantânea quando o carro que conduzia, na localidade de Voray-Sur-Ognon a 300 quilómetros de Paris, saiu da estrada e foi embater com violência num edifício. De Gribaldy, conhecido pelo «Visconde» por descender da nobreza, foi ainda o responsável pela descoberta para o ciclismo profissional do campeão irlandês Sean Kelly, um dos melhores ciclistas mundiais e chefe-de-fila de Acácio da Silva, na equipa Kas. De Gribaldy seguia para o Sul de França, numa estrada nacional, quando o seu «Citroen CX» se despistou e foi esmagar-se contra a esquina de um edifício em Voray-Sur-Ognon. O técnico de ciclismo, que viajava sozinho, teve morte imediata. A Polícia informou que o médico que examinou De Gribaldy logo após o acidente, na pequena localidade situada 300 quilómetros a Sudeste de Paris. disse que ele se sentiu doente pouco antes do acidente, mas não deu detalhes sobre a doença. A Polícia garantiu ainda, que o acidente vai ser investigado para se apurar as causas verdadeiras. O corpo de De Gribaldy foi transportado para uma casa funerária de Besançon, onde residia, a cerca de 45 quilómetros para o sul. A Polícia acredita que o técnico francês se preparava para se juntar à equipa da Kas, que se encontra a treinar na localidade de Sallanches, uma região situada a Sul de Genebra. De Gribaldy era um técnico muito conhecido e respeitado no ciclismo profissional e que possuía a particular propensão para descobrir novos talentos. Nascido a 18 de Julho de 1922. De Gribaldy tomou-se ciclista profissional depois da Segunda Grande Guerra Mundial, participando por três vezes na Volta à França, a mais importante prova velocipédica mundial. O seu melhor resultado foi um 2º lugar no campeonato francês, em 1947. Célebre como «o visconde» (a tal descendência aristocrática), De Gribaldy abandonou a carreira de ciclista em 1954, após uma queda na corrida Paris-Valenciennes, mas regressou ao ciclismo profissional para formar e treinar equipas. A sua melhor turma era a actual «Kas», que ajudou Kelly a tomar-se num dos melhores ciclistas mundiais e possuia ainda o nosso Acácio, considerado também um dos mais promissores ciclistas do mundo. Foi Gribaldy quem, em meados do ano de 1970 viajou até à Irlanda e convenceu o pai de Sean Kelly, (um lavrador) a deixá-lo assinar o seu primeiro contrato profissional. Christian Rumeau. treinador adjunto da -Kas-, anunciou a anulação dos treinos da equipa, para que os ciclistas possam assistir ao funeral e ainda porque Sean Kelly ficou muito abalado com a notícia da morte do seu treinador. A realização do funeral ainda não tem data fixada. Kelly, que é um homem muito sensível, ficou extremamente chocado com a notícia da morte de Gribaldy — disse Rumeau que acrescentou ter falado com o ciclista ao telefone: Foi como se alguém lhe desse com um martelo na cabeça —afirmou. Rumeau disse que todos os 26 ciclistas da «Kas» assinaram contratos apenas para esta época e que se mantém a sua programação que tem na Volta à Espanha (em Abril) a primeira competição. Foi uma grande perda para o ciclismo, mas não podemos agora correr riscos para o futuro da equipa, frisou o treinador adjunto da «Kas». É assim: quem vai, vai... 


Por Eduardo Lopes (c) 2021

Fuente y Texto: "Diário de Lisboa", 3 de enero de 1987

Foto: Cortesía & Copyright de "Diário de Notícias"



martes, 11 de agosto de 2020

Falecimento de Azevedo Maia: antigo ciclista Campeão Nacional de Portugal

 

Chegou triste notícia de mais um desaparecimento físico dum despottista de nossa admiração de sempre, um ídolo de infância do autor deste artigo. Tendo falecido, esta segunda-feira, dia 10 de agosto, o antigo ciclista Azevedo Maia, um campeão do FC Porto. Nome a quem já havia sido dedicado um artigo de memorização no blogue "Memória Portista", há tempos.

A notícia chega mesmo de surpresa, pois não estava doente. Foi encontrado sem vida em casa de sua filha, em França. O funeral ocorre na próxima sexta-feira, nos arredores de Paris.

Nesta ocasião. em sua homenagem e como preito de nosso reconhecimento, recordamos o que sobre ele escrevemos no espaço pessoal de Memória Portista, sob título de "Azevedo Maia: Um ciclista "Operário de equipa", de grandes capacidades na história velocipédica lusa e alvi-anil" . 

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Como gotas de suor caídas sobre o guiador da bicicleta de corrida e encharcando a camisola colada ao corpo, na imagem dum ciclista visto aos olhos dos adeptos admiradores de sua heroicidade e por seu esforço ao correr pela representatividade que entusiasma o sentimento comum, saltitam pequenas bagas de recordação de nossos heróis das estradas.

Assim como em gerações antepassadas o Norte do país teve como ídolo das multidões o famoso Fernando Moreira, símbolo do fortalecimento do ciclismo do FC Porto, enquanto no sul já antes havia grande celebridade dos duelos de Trindade, Nicolau, Eduardo Lopes, por exemplo, que em representação de Benfica, Sporting e Iluminante iluminaram as páginas da imprensa da época… de permeio com algum destaque também nuns lados e noutros duns Alberto Raposo, Aniceto Bruno, Onofre Tavares, etc. etc… passando pelos duelos entre Alves Barbosa, Sousa Santos e Ribeiro da Silva, do Sangalhos, FC Porto e Académico, respetivamente… até à geração célebre da hegemonia do ciclismo portista entre finais dos anos cinquentas à primeira metade da década de sessenta, com Sousa Cardoso, Artur Coelho, Carlos Carvalho, Mário Silva, José Pacheco, Mário Sá, Ernesto Coelho, Joaquim Leão, etc. etc… entre tantos e bons ases dos pedais havia também alguns outros que igualmente marcaram bem sua época. Entre os quais se contava Azevedo Maia – o grande ciclista desta vez a evocar, aqui. Como um dos ídolos do adepto que via o FC Porto andar na frente, por esses anos sessentas…

= Panorâmica duma etapa na Volta a Portugal de 1961, sob o calor ardente do verão: «Lá vão eles, os reis da estrada dessa quinzena de Agosto. O sol rebrilha nas cores de umas centenas de camisolas e por toda a parte há milhares de adeptos que os vão saudar»!

Azevedo Maia foi contemporâneo e colega de equipa de nomes consagrados, com os quais emparceirou nas andanças pelas estradas com a camisola azul e branca vestida. Tendo tido por companheiros, entre outros, Sousa Cardoso, Sousa Santos (pai), Alberto Gonçalves Silva, Carlos Carvalho, Alberto Moreira, Armindo Gonçalves, Cerqueda, Emídio Pinto, Carlos Pinheiro, Alberto Cerqueira, Martins de Almeida, Artur Coelho, Veiga da Mota, Joaquim Pereira, Júlio Abreu, Mário Silva, José Pacheco, Mário Sá, Agostinho Brás, Orlando Silva, Ernesto Coelho, Joaquim Leão, Mário Miranda, Joaquim Freitas, José Pinto, etc.

= Equipa do FC Porto na Volta a Portugal de 1961, na inicial etapa na pista das Antas, em "memorável noite de verdadeira gala do ciclismo»!

De nome completo Alfredo Azevedo Maia nasceu em 30 de Dezembro de 1937, na freguesia de Vilar do Pinheiro, concelho de Vila do Conde.


Iniciou a sua carreira no ano de 1955 e finalizou-a no ano de 1965. Representando as equipas do F.C. Porto, em Portugal; e Union Sportive Franco Belge, no estrangeiro. Ganhou diversas provas em Portugal, tendo sido Campeão Nacional em várias classes.

= Curiosidade reportada à antiga importância da "Volta": Um exemplo como ao tempo era seguida popularmente a Volta a Portugal, a pontos de meter mensagens de correspondência. Como no caso referente à Grandíssima de 1959 - conf. Jornal de Notícias de 9 de Agosto de 1959...

Sintomático de sua categoria é o facto de em 1960 ter sido incluído na coleção de fichas dos desportistas nacionais famosos nesse tempo, publicação à época de relevo, qual espécie de cromos com dados curriculares, sob título de Ficheiro "ASES DO DESPORTO".


De seu palmarés resumidamente constam, além de vitórias em Grandes Prémios e outras corridas de âmbito distrital e nacional, sobretudo o título de Campeão Nacional de Ciclocross na categoria de Independentes em 1960, ano em que também representou pela primeira vez a seleção nacional, no caso na Volta a Marrocos, assim como participou no Mundial de Ciclocross. No ano seguinte triunfou na clássica de maior distância e duração que existiu em Portugal, tendo ganho o Porto-Lisboa em 1961.

Enquanto nas participações na prova de maior impacto teve como melhores participações ter sido quarto classificado em dois anos seguidos, quer na Volta a Portugal de 1962, ganha individualmente pelo colega de equipa José Pacheco e por equipas pelo FC Porto, como em 1963, havendo então se cotado como melhor representante do FC Porto na edição desse ano da Grandíssima Portuguesa.

= Referente à Volta de 1963, em que Azevedo Maia foi 4º classificado e o melhor posicionado da equipa do FC Porto. Recorte do Jornal de Notícias de 13/8/63 e caixa do jornal A Bola após o final da mesma Volta a Portugal

Também em 1963 venceu a Volta ao Algarve. De permeio, integrado na Seleção Nacional participou em 2 (duas) Voltas a Marrocos. Em França ganhou a 4ª Etapa no “Ronde de Flandres” e ganhou o “Grand Prix Epernan” e o “Grand Prix Gretz S. Laing”.

Pormenorizando: Iniciada a sua carreira então em 1955, teve primeira vitória como integrante da equipa principal do FC Porto em 1958, época em que também correu pela primeira vez na Volta a Portugal. Enquanto em 1960 foi Campeão Nacional de Ciclocross e em 1961 venceu o Porto-Lisboa. Na soma duma boa folha curricular.


Assim, em 1958 venceu uma etapa do Grande Prémio Vilar, prova do calendário do ciclismo nacional e participou pela primeira vez na Volta a Portugal. Depois em 1959 foi 3º em França no Paris-Mantes (Ile-de-France). Seguindo-se sua estreia vitoriosa na Volta a Portugal de 1959, em cujo decurso venceu uma etapa, entre Portimão-Tavira.

Em 1960 foi Campeão Nacional de Ciclocross e participou no Campeonato do Mundo de Ciclocross. Tendo então o FC Porto ganho os campeonatos de Ciclocross em todas as categorias, entre as quais em Independentes o vencedor foi Azevedo Maia. Ao passo que no mesmo ano Azevedo Maia foi também 1º no Campeonato Nacional de Estrada, Elite (vulgo campeonato de Fundo); e classificou-se em 3º numa etapa da Volta a Marrocos (Tour du Maroc), em Essaouira (Marrakech-Tensift-Al, Haouz). Volvido um ano, em 1961, além de algumas boas classificações noutras provas, foi 1º no Porto-Lisboa, vencendo essa grande clássica portuguesa. E ajudou o colega de equipa Sousa Cardoso a vencer a Volta a Portugal, em renhido despique com os adversários.


Seguiu-se em 1962 ter sido 1º em mais uma etapa da Volta a Portugal), tendo Azevedo Maia vencido a tirada Cacilhas-Beja.

Poucos dias depois Azevedo Maia chegou mesmo a vestir a camisola amarela de primeiro da Volta. O que aconteceu ao fim da etapa terminada em Évora, após ligação de Tavira-Évora, ganha pelo portista Ernesto Coelho, com Azevedo Maia a somar o melhor tempo geral e como tal havendo vestido a simbólica camisola de lider, que ostentou na seguinte etapa entre Vila Viçosa e Portalegre, (que foi de contra-relógio, tendo José Pacheco amealhado tempo que lhe deu para voltar a vestir ele a amarela).


Era então tão valoroso todo o grupo da equipa do FC Porto, por esses tempos de forte supremacia portista na caravana das provas do ciclismo português, sendo todos bons, afinal, como se dizia, que qualquer um podia ganhar fosse o que fosse; e, por isso, todos faziam o trabalho da equipa, em prol do coletivo e para quem calhasse de estar melhor posicionado na tabela classificativa.

Desse tempo ilustra-se bem as ocorrências com imagens de pranchas desenhadas, através do álbum de banda desenhada "Heróis da Estrada"...


Nessa Volta, em que ajudou o colega José Pacheco a ter ficado em 1º da Classificação Geral e como assim sagrado vencedor individual, tal como contribuindo para a vitória coletiva da equipa do FC Porto, Azevedo Maia classificou-se em 4º na Geral final.


Após isso no ano seguinte venceu uma importante prova nacional, havendo sido 1º na Classificação Geral da Volta ao Algarve, em 1963. Ano em que voltou a ser 4º na Classificação Geral final da Portugal, inclusive como melhor classificado do FC Porto (nessa Volta ganha por João Roque do Sporting). Até que em 1965 venceu mais uma etapa na Volta a Portugal, num dia inesquecível dessa maior corrida portuguesa, ao triunfar na etapa Leiria-Porto, perante o delírio dos adeptos portistas na chegada à cidade Invicta. Seria então a sua despedida, pois, aproveitando passagem imediata da Volta a Portugal para lá da fronteira, entrada a Volta portuguesa pela Galiza dentro (em tempo da ditadura do Estado Novo e dificuldades de passagem para fora do país) Azevedo Maia resolveu dar outro destino a sua vida… embora tendo de desistir da sua participação na Volta a Portugal. 


Havendo então decidido emigrar, tendo seguido para França onde se radicou durante alguns anos.

Em resumo também de seu currículo desportivo em Portugal, Azevedo Maia contribuiu para as vitórias da equipa do FC Porto nos triunfos coletivos nas Voltas a Portugal, na classificação por equipas em 1958, 1959 e 1962.


Iniciada a carreira em 1955, nos escalões jovens, e entrado na alta-roda do ciclismo em 1958, terminou a carreira em Portugal em 1965.


Filho de Joaquim Pereira Maia e Ana Carvalho de Azevedo, Alfredo de Azevedo Maia nasceu em Vilar do Pinheiro a 30 de Dezembro de 1937, curiosamente dois dias depois do atual presidente do FC Porto (havendo Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa nascido a 28 desse mesmo último mês do igualmente mesmo ano). Estando atualmente ainda um e outro rijos na sua vivência: - um como fruto de seu exercício físico sobre a bicicleta, a dar aos pedais; e outro pelo seu desempenho como portista a exercitar seu grande trabalho em prol do FC Porto.

(Azevedo Maia é conterrâneo, pela naturalidade do mesmo concelho, de um outro ciclista de renome portista, o também vilacondense Gabriel Azevedo, sendo ambos vizinhos em posicionamento de freguesias do mesmo concelho e velhos amigos pela ligação ao ciclismo. Assim como é grande amigo do antigo colega de equipa Ernesto Coelho, através do qual o autor destas linhas teve acesso a alguns jornais da coleção particular de Azevedo Maia, embora a maior parte do que aqui se conseguiu exprimir seja do arquivo pessoal do autor.)


Azevedo Maia é pois nome saliente do historial do ciclismo do FC Porto e da própria modalidade em Portugal. Sendo aos olhos da memória do autor destas linhas, sobretudo, o vencedor da etapa terminada na cidade do Porto na Volta de 1965, pessoalmente ouvida pelo relato radiofónico com grande entusiasmo, tendo aquela vitória sido deveras bem sentida no ânimo dum adepto que estava ainda numa idade infante (e como tal muito pequeno aquando das anteriores vitórias), sendo a ocasião desse sprint vitorioso em tempo de férias grandes da fase escolar desse jovem já com memória, a bem dizer… e a gostar já muito de quando alguém ganhava pelo FC Porto.

Eis assim uma homenagem evocativa desse senhor do ciclismo, Azevedo Maia. Um ciclista "Operário de equipa", dotado de grandes capacidades e nome referencial na história velocipédica lusa e alvi-anil, na modalidade das bicicletas de corrida em Portugal e no FC Porto.

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Entretanto, faleceu esta segunda-feira, dia 10 de agosto de 2020. 
O tempo corre, também.
Que descanse em paz!

Armando Pinto - 11 de agosto de 2020

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