lunes, 11 de mayo de 2020

Aniceto Bruno: Nome sonante dos primórdios do ciclismo em Portugal


A 12 de maio de 1941 Aniceto Bruno, ciclista dos primeiros tempos do ciclismo portista, venceu o Circuito do Estoril.

Esta notícia desse longínquo ano, a calhar como efeméride, traz à lembrança, na oportunidade, a memória desse ciclista dos tempos de implantação da modalidade das bicicletas no seio do grande clube nortenho.


Ora, o ciclismo, embora tenha tido princípios precisamente no Norte de Portugal, como até teve os primeiros velódromos em Matosinhos e no Porto, por sinal ambos ligados à história embrionária do FC Porto, depois passou a vigorar mais a sul, onde durante largos anos teve maior atividade e impacto. De tal forma que nas edições mais antigas da Volta a Portugal (iniciada em 1927) e até à década dos anos 40, o Norte não tinha possibilidades de concorrer em igualdade, não constando na realização da maior prova com igual número de ciclistas. Sendo necessário entretanto ter havido uma campanha para ter passado a haver idêntico número de inscritos, em igualdade de todos os clubes e regiões. De modo que, apesar da primeira experiência duma participação do FC Porto na Volta a Portugal em Bicicleta ter acontecido em 1934, ainda com poucos ciclistas e tendo de recorrer à inscrição de duas equipas (fortes e fracos, tipo de primeira categoria e reservas, com quatro e dois ciclistas, respetivamente) foi a partir de 1941 e (com a 2ª Grande Guerra pelo meio) depois de vez em 1946, que o clube azul e branco da Invicta entrou na alta-roda do ciclismo português.

Então, após as primeiras pedaladas, foi desde a entrada de Aniceto Bruno no FC Porto que começaram a aparecer resultados salientes. Tendo, depois da sua vitória com a camisola do FC Porto no Circuito do Estoril, continuado em lugares da dianteira. Tanto que, passados tempos, seria 3º na Volta a Portugal também em 1941. Como depois a 29 de setembro do mesmo ano de 1941 venceu o Circuito da Curia.


De nome completo José Aniceto Bruno, esse ciclista natural de Peniche havia começado como popular e depois de no princípio de carreira ter corrido pelo Belenenses, de 1938 a 1940, rumou ao Norte de Portugal e ingressou no FC Porto em 1941, tendo com a camisola do maior clube Nortenho corrido sensivelmente durante dez anos, até 1951.

Ainda no tempo de popular, sem clube, teve sua primeira vitória, havendo sido vencedor do Circuito de Aveiro, em 1936. Depois, já quando representava o Belenenses, Aniceto Bruno foi 3º classificado numa etapa da Volta a Portugal de 1939, e de seguida integrou a equipa de Portugal nesse mesmo ano na corrida Madrid-Lisboa, que foi única edição duma prova de ciclismo entre as capitais de Espanha e Portugal. E ainda se posicionou em 6º na Classificação Geral da Volta a Portugal. Depois, no FC Porto ganhou estatuto de grande nome do panorama do ciclismo português, através de longa carreira.


Assim já no FC Porto em Março de 1941 Aniceto cotou-se como vice-campeão do Norte, ao se ter classificado em 2º lugar no Campeonato Regional do Norte, em que triunfou o colega de equipa Alberto Raposo, completando o pódio José Pardal, também do FC Porto. E, de seguida, em Maio do mesmo ano venceu então o Circuito do Estoril. Bem como, passados meses foi 2º classificado na 12ª etapa da Volta a Portugal, em Mirandela, para no final ter conseguido ser 3º na Geral da Xª Volta a Portugal desse mesmo ano de 1941, corrida em Agosto. Cujo 3º lugar na classificação da Geral final na 10ª Volta a Portugal era algo inédito para o ciclismo portista. E continuando nessa pedalada destacável, depois a 29 de setembro do mesmo ano venceu o Circuito da Curia.

= Gravura, de Aniceto Bruno com Alberto Raposo, colega durante algum tempo no FC Porto. Imagem do livro “Em Memória de Eduardo Lopes – Glória e Drama de um Campeão de Ciclismo”, de Eduardo Cunha Lopes (sobrinho desse ciclista que representou Iluminante, Benfica, Sporting e Cuf, sendo colega de corridas nacionais e internacionais do tempo de Aniceto Bruno).

Volvidos tempos, em 1943 foi já Aniceto Bruno que se sagrou Campeão do Norte, tendo vencido o Campeonato Regional do Norte, prova da então UVP-União Velocipédica Portuguesa (seguido de Jerónimo Souto e Belmiro Correia do Académico, e em 4º Império dos Santos do Salgueiros). Enquanto em 1944 Aniceto foi 2º (atrás do salgueirista Império dos Santos e à frente de Belmiro Correia do Académico do Porto).

Seguidamente, como resultados mais vistosos, em 1945 Aniceto foi 10º no Campeonato Nacional de Estrada, na categoria de Elite; como conseguiu ser 3º na 5ª Etapa da Vuelta a España, em Sevilha (Andaluzia), e foi 2º na 13ª Etapa da mesma Vuelta a España, em Bilbau (Pais Vasco).

Com efeito em 1945 Aniceto Bruno fez parte da Seleção Portuguesa que participou na Volta a Espanha, em equipa composta por Francisco Inácio, Eduardo Lopes, Jorge Pereira, Império dos Santos, Aniceto Bruno, João Lourenço, Júlio Mourão e João Rebelo – que estão, por esta ordem, na foto (retirada também do referido livro de Eduardo Cunha Lopes). 


Na continuidade das corridas, ganho estatuto clássico de ciclista carismático dentro de sua equipa, Aniceto Bruno passou a correr mais para a equipa, com sentido coletivo, como "chefe de equipa e orientador", enquanto foram surgindo novos valores que foi amparando, como Onofre Tavares, Fernando Moreira, Dias dos Santos e outros.

= Equipa do FC Porto de Ciclismo de 1946 - Da esquerda para a direita: Dias dos Santos, Joaquim Costa, Fernando Moreira, Joaquim Sá, Aniceto Bruno, José Novais e Onofre Tavares.


= Equipa de ciclismo do FC Porto que venceu individual e coletivamente a Volta a Portugal em bicicleta em 1948 - da esquerda para a direita: Fernando Moreira (Vencedor da Volta), Fernando Moreira de Sá, António Dias dos Santos, Aniceto Bruno, Joaquim Costa, Joaquim Sá, Amândio Cardoso, Grausse e Berrendero.

= Equipa do FC Porto de Ciclismo de 1951, participante na XVIª Volta a Portugal em Bicicleta - da esquerda para a direita: Dias dos Santos, Fernando Moreira de Sá, Luciano Moreira de Sá, Amândio Cardoso, Joaquim Costa, Onofre Tavares, Amândio de Almeida, Aniceto Bruno e Joaquim Sá.

Tendo colocado um ponto final na carreira no final da época de 1951, acabou por ter uma festa de despedida em Setembro imediato, a que se associaram todos os seus antigos colegas e pupilos. À qual se reporta a imagem, da revista Stadium de 3 de outubro de 1951.


Volvidos anos, e ainda em sinal de seu carisma, Aniceto Bruno foi quem prefaciou o livro dedicado em 1957 à carreira de Onofre Tavares, o “Rei do Sprint”.

Armando Pinto - Maio de 2020
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