lunes, 25 de noviembre de 2019

O Muur van Geraardsbergen.




A noticia caiu que nem uma bomba para todos os amantes de ciclismo. A mais mítica das subidas da Ronde van Vlaanderen vai sair de cena pela segunda vez. A razão : o dinheiro. O município de Geraardsbergen não pode, alegadamente, pagar a inclusão do seu famoso "berg" na prova mais importante que se realiza na pátria espiritual do ciclismo. 

Falamos do Muur van Geraardsbergen. 

Também conhecido no mundo do ciclismo como Kappelmuur ou para os flamengos simplesmente Muur. E isto significa muito. É o “muro”! E como sabemos isso é coisa que não falta nesta região da Bélgica. Para os flemish existem apenas 3 muros: a grande muralha da China; o muro de Berlim e o seu Muur. Mas a vantagem cai para aquele que infelizmente será retirado do percurso da Ronde. Afinal de contas, dos três muros é o único onde a história ainda se estava a fazer até há bem pouco tempo.  Por exemplo, e apesar de  localizado bem longe da meta da Ronde em Oudennarde, foi no Muur que em 2017 os belgas Quick-Step lançaram o primeiro ataque levando Phillippe Gilbert para a vitória que teve tanto de belo como também de supranatural aproveitando as ondas espirituais do Kappelmuur.

O Muur é curto, apenas com 1km de extensão e com média de 9,3% .A inclinação máxima é de 20% já perto do final.




Ganhou notoriedade quando passou a fazer parte dos km finais da Ronde. No Muur fizeram-se ataques lendários. Em 2010 Cancellara descarregou Boonen de tal forma que mais parecia que ia de motorizada. Ballan em 2007 também aí atacou para a vitória em Meerbeke. O italiano, dias depois de conquistar a Ronde, descreve o Muur da seguinte forma: “é uma sensação única e um ruido que nunca ouvi nem vou ouvir em mais lado nenhum do mundo”. Também   Musseeuw, o leão da Flandres, vencedor da prova por 3 vezes (93,95 e 98) descreveu a subida à capela de Oudeberg. Foi mais ousado nas palavras e meio a brincar disse: “ganhar a Ronde no Muur é como ter um orgasmo em cima da bicicleta”.

Cancellara, Muur 2010

O Muur tornou-se então o mais importante e mítico “helligen” da Ronde. Era o local onde se faziam os ataques vitoriosos e também o local onde os fanáticos adeptos flemish pernoitavam para conseguir um local privilegiado. É fácil pesquisar fotos de vários anos e reconhecer as caras dos adeptos. As encostas à volta da capela funcionavam quase como os lugares reservados num estádio de futebol .

Mas em 2012 o impensável aconteceu. Oudennarde ganhou a corrida para final da Ronde e Meerbeke ficou para trás. Com esta mudança de meta também o tradicional percurso foi alterado. A dupla Kappelmuur – Bosberg foi substituída pela atual Oude kwaremont – Paterberg e muitos fizeram o funeral à Ronde. 

"Funeral" Ronde van Vlaanderen

Era impossível a Ronde, o dia nacional belga, sem a subida ao Muur. Muito se falou na altura e os protestos foram muitos e de diferentes formas. Chegou-se mesmo a fazer o enterro da Ronde! Os adeptos mais fervorosos juraram mesmo que nunca mais viam a corrida. A Ronde estava ferida e para alguns em estado de coma permanente.

Em 2017 o Muur regressou apesar de não ocupar o lugar de destaque de outras edições. Localizado a cerca de 90km da meta, a subida, mesmo assim, tornou-se decisiva na edição de 2017. Coincidências ou não, o que é certo é que com o regresso do Muur as vitórias memoráveis na Ronde voltaram. Gilbert que o diga.

Mas hoje a noticia apanhou todos de surpresa! Vamos fazer em "peditório " para salvar o Kapelmuur ? 

Boas pedaladas. 

Por Pedro Bento (c) 2019 (Aguadeiro Trepador)


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